2012-09-09

Recordar o que se Esqueceu

Esquecemos da essência da coisa. Esquecemos pois. Só pode.

Enquanto que uns e outros andam a discutir os estatutos as coisas ficam por fazer. Enquanto uns e outros reclamam porque está mal... tudo está mal... nada é feito!

Então digo: esquecemos. Estamos todos esquecidos da origem.

Qual a origem? O sonho, a paixão... aquilo que move é essa energia que sai de dentro para fora. Essa vida que nos faz correr sem cansar e que já as falas populares dizem: "Quem corre por gosto não  cansa". Esqueceu-se o popular e só se quer o erudito sem mesmo perceber o que isso é. Muitos não sabem nem vivem esse erudito porque proclamam.

O que importa é a mensagem, já diz o meu marido, digo: verdade. A primeira vez que ele me disse isso eu pensei, pronto lá está ele... não, não é isso, pelo menos não é só.

Mas se não, vejamos: em tempo, bem antes da televisão usava-se a arte para comunicar, logo passar mensagens. Isso, desde a pré-história quando se pedia aos deuses. Sobre isto falo com mais detalhes na revista planoZ magazine (artigo completo na revista). Portanto vamos passar para o antes do 25 de Abril... as músicas com mensagens escondidas, a literatura que todos estavam ávidos... aqui não havia queixas de falta de público. Pelo contrário, o público corria para ver jornais, ouvir rádios e enchia as associações de gente. Uns para fazer teatro, outros ver teatro e outros ainda para música ou outras artes, por outro lado nessa população estavam incluídos os que só queriam "dar duas de letra". Mas havia vida, mesmo com proibições do mais alto nível. E já diziam as sábias palavras populares: "O fruto proibido é o mais apetecido".

As mensagens passavam.

Hoje temos escolas de arte, antes eram quase inexistentes. Antes tínhamos palcos cheios de atores, técnicos improvisados, encenadores à pressão, dramaturgos com paixão e público, esse tão desejado público. Aquele que os profissionais ambicionam e quase não existe. Hoje temos muitos palcos fechados, muitos deixados nas mãos dos fantasmas do passado. Hoje temos quem quer ser estrela, mas não brilha... quem quer ser estrela sem "processar informação". Hoje temos quem queira atuar para si, mas teatro não vive sem audiência.

O que fazer para essa audiência encontrar de volta as coordenadas dos palcos? Nada de formulas mágicas, só voltar às origens.

Muitos dos profissionais dos dias de hoje passaram por teatro amador, deram "o litro", amor, paixão... Deram a sua experiência, faziam grupos coesos com confiança. Tinham asas, voavam. Agora temos asas e caminhamos.

Muitos dos profissionais de hoje são os amadores de outrora e já ninguém se lembra disso.

Passavam mensagens. Que mensagens se querem passar agora? Já não há mensagens?

Vamos agradecer o legado (palcos, maquinaria, meios...) colocando-os a mexer... formando públicos, dando essas bases que são estudadas, mostrando o que de melhor se faz nunca esquecendo o outro lado, lembrando de quem somos... fazendo teatro com mensagem, respeitando o trabalho uns dos outros e vibrando com: a mensagem.