2013-09-26

O dia da velhinha e do velhinho

Esta história que vos vou contar, pode ser parte de qualquer parte do mundo, não é minha nem tua, mas é certamente de alguém, mesmo que em inversão de papéis.

Esta história tem ainda outra particularidade as personagens não têm nome próprio, afinal elas não são um sujeito só, mas tantos quantos se queiram incluir, ou mesmo excluir.

E para finalizar a introdução, que numa das raras vezes não começa com "Era uma vez" - como tantos contos de fadas (este não tendo fadas, pode também não ser uma vez, quem sabe quantas serão as vezes?!) este conto deveria ter palavras simples, e elas até são simples! Já o significado das palavras, sendo ele simples pode complicar. Mas, cabe a si, leitor ligar o 'descomplicador'.

Uma senhora velhinha vivia com um senhor velhinho. Todos os dias da vida em comum, a velhinha acordava, levantava e dizia:

- Bom dia! - exclamava a velhinha alegre e dando um beijinho ao velhinho.

O velhinho que até então sempre respondeu: 'Bom dia!' e lhe retribuiu o beijo, dado dia, resolveu pensar:

- Bom dia! Logo ao acordar?! Eu que estou ainda a dormir a despertar para o campo lavrar?

Para o velhinho não fazia mais sentido dizer: Bom dia! Uma vez em vez de pensar disse-o diretamente à velhinha:

- Bom dia! Logo ao acordar?! Eu que estou ainda a dormir a despertar para o campo lavrar?

A velhinha compreendeu, passou então a pensar 'Bom dia!' mas só sorria, não dizia. Uma vez que ao início do dia a velhinha não tinha como desejar bom dia, passou a fazê-lo ao almoço. Do mesmo jeito:

- Bom dia! - exclamava a velhinha com um beijinho.

O velhinho aceitava e gostava, embora não dissesse literalmente que gostava.

Contudo, certo dia o velhinho pensou:

- Bom dia! Ao almoço, bom dia?! Eu que tenho de me alimentar para mais tarde o campo lavrar!

Num belo dia a velhinha falou:

- Bom dia! - deu-lhe um beijo e levou com a resposta torta:

- Bom dia! Ao almoço, bom dia?! Eu que tenho de me alimentar para mais tarde o campo lavrar! - o velhinho indignado.

A velhinha, mais uma vez aceitou, e pensou: ao fim do dia posso sempre desejar bom dia! Afinal o dia ainda não teria acabado, por isso a velhinha passou a desejar bom dia, no final de cada dia.

O velhinho ouvia o tal: 'Bom dia!'. A velhinha ainda o recebia com um beijo. O velhinho gostava, mas certo dia voltou a pensar:

- Bom dia?! No final do dia?! Quando eu preciso de descansar para amanhã o terreno ir lavrar?!

Pois nada demorou para que a velhinha ouvisse do velhinho:

- Bom dia?! No final do dia?! Quando eu preciso de descansar para amanhã o terreno ir lavrar?!

A velhinha porque amava tanto o velhinho e se lembrava de como sorria só de o ver pela manhã, ao almoço enquanto comia e ao fim de um dia, fim de um longo dia, aceitou. Porém, em quase nada a velhinha começou a sentir-se sozinha, cada vez mais sozinha.

A janela era ao lado e certo dia, a velhinha que estava tão sozinha, abriu a janela e exclamou!

- Bom dia!

Os pássaros cantaram, a chuva pingou, o sol brilhou mais e o arco-íris dobrou! Todos em sintonia para lhe dizer 'Bom dia!' a velhinha sentiu-se tão feliz que abriu a porta de casa e foi dizer 'Bom dia' a todos os seres que encontrou pelo caminho e todos eles lhe diziam 'Bom dia!' de volta.

A velhinha foi indo e indo cada vez mais longe, os dias foram passando e a velhinha não voltou para casa, onde estava o velhinho. Todos os dias o velhinho acordava, olhava para o lado e a velhinha já lá não estava, mas ele dizia:

- Bom dia!

Chegava a casa do almoço, e em menos de nada falava:

- Bom dia!

E finalmente ao fim de um dia, fim de um longo muito longo dia, abria a porta de casa e projetava:

- Bom dia!

Mas a velhinha já lá não estava.

Pois... é assim, foi assim esta história!

Quem sabe se um dia a velhinha volta depois da volta ao mundo e ouve o 'Bom dia!' do velhinho. Quem sabe ainda se um esta história terá um final feliz!