2012-06-10

A ver passar o tempo...


Há alturas na vida que... uma pessoa fica parada no tempo a ver o tempo passar por nós. Isso pelo menos eu sinto.

Hoje senti o tempo com ritmos diferentes. Eu própria estava com ritmos estranhos... e continuo com um ritmo intercalado "entre nada e coisa nenhuma" citando Fernando Pessoa.

Estou simplesmente a ver o tempo a passar por mim. A ouvir o que ele diz e sem palavras para lhe responder!

Quando era pequena eu tinha o síndroma de domingo à noite! Aquele momento em que quero parar o tempo para não dar o próximo passo. Hoje já transformei esse síndroma... e hoje sinto, mais uma vez: qualquer coisa "entre nada e coisa nenhuma".



Para quem não conhece o poema aqui fica:


Liberdade

    Ai que prazer
    não cumprir um dever.
    Ter um livro para ler
    e não o fazer!
    Ler é maçada,
    estudar é nada.
    O sol doira sem literatura.
    O rio corre bem ou mal,
    sem edição original.
    E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
    como tem tempo, não tem pressa...


    Livros são papéis pintados com tinta.
    Estudar é uma coisa em que está indistinta
    A distinção entre nada e coisa nenhuma.


    Quanto melhor é quando há bruma.
    Esperar por D. Sebastião,
    Quer venha ou não!


    Grande é a poesia, a bondade e as danças...
    Mas o melhor do mundo são as crianças,
    Flores, música, o luar, e o sol que peca
    Só quando, em vez de criar, seca.


    E mais do que isto
    É Jesus Cristo,
    Que não sabia nada de finanças,
    Nem consta que tivesse biblioteca...

          Fernando Pessoa