Há alturas na vida que... uma pessoa fica parada no tempo a ver o tempo passar por nós. Isso pelo menos eu sinto.
Hoje senti o tempo com ritmos diferentes. Eu própria estava com ritmos estranhos... e continuo com um ritmo intercalado "entre nada e coisa nenhuma" citando Fernando Pessoa.
Estou simplesmente a ver o tempo a passar por mim. A ouvir o que ele diz e sem palavras para lhe responder!
Quando era pequena eu tinha o síndroma de domingo à noite! Aquele momento em que quero parar o tempo para não dar o próximo passo. Hoje já transformei esse síndroma... e hoje sinto, mais uma vez: qualquer coisa "entre nada e coisa nenhuma".
Para quem não conhece o poema aqui fica:
Liberdade
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa